27 de outubro de 2011

Ainda sobre a Escrita da História

Lembrei de Michel Maffesoli ao retomar a questão do texto e da escrita comunicativa e estratégica, de que nos lembra, com outras palavras, Peter Burke. Na obra O conhecimento comum, Maffesoli sugere que se imagine uma sociologia capaz de dar conta das nuanças e das diferenças sociais, num processo de retroalimentação entre a forma e a empatia pela leitura (no "Quarto pressuposto: uma pesquisa estilística", p.37). Sua intenção é enfatizar a necessidade de construir o interesse do leitor pela leitura, sem a perda do afamado rigor científico
Na minha compreensão, há nessa proposta de Maffesoli um ponto de aproximação com as afirmações do historiador Peter Burke (tratadas na postangem anterior), quando ele avalia os atrativos que a escrita histórica pode oferecer aos seus leitores, uma vez que os dois intelectuais propõem mudanças na forma de escrever. Maffesolli menciona o apreço que alguns sociólogos devotam ao “rigor científico”, em detrimento de um resultado mais compatível com a heterogeneidade do social. Nessa medida, ele sugere a reintrodução da metáfora, da analogia e da alegoria no texto, típicas do texto literário, afirmando: no momento em que consideramos o dado mundano como uma composição de elementos heterogêneos e no instante em que a ‘correspondência’ física e social é levada em conta em nossas análises - é, então, preciso encontrar-se um modo de expressão que saiba exprimir a polissemia de sons, situações e gestos que constituem a trama social De maneira idêntica à vida corrente, tecida por mil fios entrançados, também o pensamento deve fazer-se lúbrico, dinâmico, matizado, se for o caso; tudo que não deixe de fustigar as certezas dos dogmas mortos ( p.38).
Maffesoli propõe que o texto sociológico deixe um espaço aberto para as incertezas, fazendo duras críticas à falta de audácia de pensamento dos intelectuais. No Quinto pressuposto: um pensamento libertário, ele defende a idéia de uma “ciência alegre” e sugere que se trabalhe pela liberdade do olhar.
Iconoclasta, Maffesoli procura atingir as posições cômodas dos intelectuais conformados com o saber que não cria, com a universidade que não mais analisa, sugerindo que os saberes instituídos sejam esquecidos, em alguns momentos, para dar lugar à fecundidade do pensamento que inventa e que se encontra com o não-conformismo dos espíritos livres.
É preciso pensar as estratégias da escrita, tanto no texot sociológico quanto no histórico, para além das questões de método, de pesquisa e do chamado rigor científico.


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