6 de junho de 2011

Livros: trajetória e atualidade

O registro textual dos acontecimentos e o nascimento do livro-códice dependeram historicamente do desenvolvimento das formas de escrita, da existência de suportes materiais e da conservação, elaboração e aperfeiçoamento dos textos sagrados, filosóficos, literários e administrativos, entre outros. Noutras palavras as formas de escrita (ideográficas, hieroglíficas, cuneiformes, fonéticas e alfabéticas), os suportes materiais (placas de argila, cascas de árvores, papiro, pergaminho, cortes de bambu, tecidos (seda) e papel (vegetal, de trapos e de celulose) e as formas textuais originam o livro e condicionam a sua trajetória.
Na Idade Média européia prevalece o códice em páginas, no lugar do texto enrolado – ou do rolo -, além do uso do papel feito de trapos de linho e de algodão. De China, por intermédio da Rota da Seda, a técnica de produzir papel chega a Espanha, ainda durante a Idade Média. Levada para a Itália, ela adapta-se, e o papel torna-se o suporte preferencial na produção de códices manuscritos, elaborados nos mosteiros, nos conventos e universidades, uma das alternativas ao uso do pergaminho.
Uma vez adotado o formato livro ou códice, a Europa especializa-se na produção do papel, na preparação das tintas adequadas às maneiras de copiar, de ilustrar e iluminar os textos. Esse processo artesanal modifica-se com o aparecimento dos tipos móveis fundidos em metal, com o uso da prensa e o desenvolvimento da impressão.
A articulação matriz tipográfica, tinta espessa, a folha tipográfica padronizada transforma a produção artesanal do livro numa produção manufatureira, ou seja, artesanal e mecância. Graças a essa combinação, Gutenberg imprime a sua Bíblia, a B42, em 1456. Destas bíblias restam 46 exemplares, sendo que um deles está na Biblioteca Nacional do RJ.
A produção do livro mantém-se quase inalterada até o século XIX. Contudo, a invenção do prelo cilíndrico, da máquina de compor (linotipo) e do papel de celulose (pasta de madeira), combinados com novas formas de energia, transformam a produção manufatureira em produção industrial. O caminho para as grandes editoras e a universalização da leitura está aberto.
No Brasil, a produção regular de livros acontece no século XIX. Duas livrarias e editoras destacam-se: a dos Irmãos Garnier e a dos Irmãos Laemmert, a primeira responsável pela obra de José de Alencar e a segunda pela obra de Machado de Assis. A Editora Francisco Alves, nascida da Laemmert, torna-se uma das grandes editoras brasileiras do século XX. Na década de 1920, o Rio de Janeiro, centro da produção editorial brasileira, sofre com o avanço da supremacia empresarial de São Paulo, principalmente depois que Monteiro Lobato funda a Editora Lobato e Companhia.
Surgem grandes editoras como a Brasiliense, a José Olimpio, a Livraria Martins Editora, a Civilização Brasileira e a Livraria do Globo.
Como exemplo de experiência regional, fora do eixo Rio-São Paulo, a Livraria do Globo de Porto Alegre, fundada no final do século XIX, inicia-se no ramo de edições, publicando obras didáticas e de autores regionais. Entre 1930 e 1950, torna-se uma das maiores editoras brasileiras. Seu projeto inovador, comandado por Henrique Bertaso e Erico Veríssimo, baseia-se na produção de livros vistosos e na adoção de uma estratégia de comercialização - de merchandising - surpreendente para as condições de comunicação e de distribuição comercial do Brasil. Além disso, a Globo especializa-se em traduzir a literatura anglo-saxônica, notadamente a literatura popular norte-americana de grande sucesso.
Atualmente, depois da experiência artesanal, manufatureira e industrial de produção do livro, vive-se a produção digital, considerando que o processo industrial do livro, depende integralmente da digitalização do texto e das imagens. Além da produção digital do livro, convive-se com o advento da transmissão digital do texto e da leitura digital, abrindo a possibilidade da substituição do suporte papel pelo suporte virtual e da página pelo rolo.
Assim, o virar a página do livro cede lugar à imagem do rolar a página, no computador ou no tablete. A era dos rolos digitais ou pergaminhos digitais está produzindo uma geração de editores, de produtores e transmissores de livros, cuja principal característica é o pouco ou nenhum contato com a arte da tipografia e com as exigências da edição moderna. Basta conhecer um editor de texto para se ter um livro digital.
Em vista das surpreendentes possibilidades autorais e editoriais, estudar a trajetória do livro é certamente uma maneira adequada de pensar no seu papel na construção do processo civilizacional ocidental.

2 Comentários:

Anna Paula Boneberg disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anna Paula Boneberg disse...

Beth,

Parabéns por mais este artigo que publicastes no teu blog. Além de muito interessante, penso que sua grande importância está no fato de ele ser um ótimo recurso de aprendizagem sobre a trajetória dos livros impressos, legitimando a sua inquestionável contribuição na construção e na evolução cultural das civilizações.

Um grande abraço,

Anna

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