2 de fevereiro de 2011

A Pesquisa por Objetivos: Ótimos Resultados para o Pesquisador

Dos 300 mil acessos a este blog, 40% dos visitantes buscam o modelo de projeto, 30% os conceitos de diacronia e sincronia, 10% o modelo de monografia e o restante (10%) a formulação do problema e da hipótese, sobrando 10% para os outros textos publicados.
Por essa razão, pensei em retomar a parte nuclear do projeto para dialogar um pouco com o leitor, através do que já foi publicado. No final, insisto na organização da pesquisa por objetivos, como está no título desta postagem, considerando os aspectos positivos dessa escolha.

Na publicação de 26 de agosto de 2010, afirmei que a formulação de um problema de pesquisa é um passo necessário para a formulação da hipótese. Se tivermos uma hipótese consistente e com boas variáveis, podemos traçar os objetivos da pesquisa e depois os procedimentos, ou seja, a parte operacional.
Para retomar a esse tema, busquei lá no Modelo de Projeto, publicado em 17 de junho de 2010, o problema, o referencial teórico, a hipótese, os objetivos (traçados sempre a partir da hipótese) e os procedimentos de pesquisa. Pretendo avançar um pouco e propor uma pesquisa organizada por objetivos . Para isso, é necessário adotar um modelo de ficha para organizar a pesquisa e o fichário por objetivos.
Antes, reproduzirei uma parte do projeto, incluindo, a título de revisão, a parte de Referencial Teórico.

(Trechos do Projeto de pesquisa)
Livraria e Editora Globo: uma Moderna Experiência de Indústria Cultural no Rio Grande do Sul (1928-1948)
(...)
3. PROBLEMA DE PESQUISA
Uma vez apresentado o tema histórico, elaborou-se um questionamento sobre a Livraria do Globo e de seu campo de atuação, em torno da seguinte pergunta: Como surgiu, fora do eixo Rio-São Paulo uma moderna editora, das dimensões e importância da Editora Globo, ainda na década de 1930?

4. REFERENCIAL TEÓRICO
A industrialização, conforme Celso Furtado, Paul Singer e Gabriel Cohn, é um processo histórico. Gabriel Cohn aponta para a necessidade de se fazer uma distinção entre surtos industriais, como aquele ocorrido no Império, entre 1844 e 1875, e a industrialização no seu sentido mais amplo. Para Cohn,
A industrialização é um processo: é um conjunto de mudanças, dotado de certa continuidade e de um sentido. Seu sentido é dado pela transformação global de um sistema econômico-social de base não industrial (no caso brasileiro de base agrário-exportadora) (...) A instauração de um processo industrializante tem raízes mais profundas, que por vezes nem mesmo se traduzem imediatamente na criação de indústrias, mas que configuram um movimento que, uma vez iniciado, é irreversível. Desde que articuladas as forças econômicas e sociais conducentes à industrialização, e desencadeado (...) o processo, a alternativa não é mais a volta ao estado anterior, mas a estagnação.
No caso do desencadeamento do processo industrial no Rio Grande do Sul, serão considerados os fatores de acumulação regional e a combinação deles com os fatores nacionais, ou seja, a produção voltada ao atendimento do mercado interno brasileiro, a monetarização da economia, a aquisição de máquinas e equipamentos e a conversão de capitais em determinados setores.
O fenômeno da industrialização da cultura (indústria cultural) e da produção industrial de livros tem a sua especificidade. Conforme Umberto Eco, "a fabricação de livros tornou-se um fato industrial, submetido a todas as regras da produção e do consumo; daí uma série de fenômenos negativos, como a produção de encomenda, o consumo provocado artificialmente, o mercado sustentado com a criação publicitária de valores fictícios".
Embora Eco chame a atenção para a distinção entre os produtores de objetos de consumo cultural e produtores de cultura, à indústria cultural interessa a reprodução do capital e, para tanto, pode abrigar os dois produtores sem provocar nenhuma contradição interna. As áreas de interesse de uma indústria de livros podem ser divididas em blocos. As editoras, em geral, interessam-se por literatura erudita, literatura didática e científica, literatura infantil e literatura de massa.
A literatura erudita designa a produção das instituições de ensino e das academias. Por ser a mais difícil de definir, Pierre Bourdieu a inscreve no campo da produção erudita: "O campo de produção erudita somente se constitui como sistema de produção que produz objetivamente apenas para os produtores de cultura através de uma ruptura com o público dos não-produtores, ou seja, com as frações não-intelectuais das classes dominantes". que com base nos estudos de Umberto Eco e Pierre Bourdieu.
O termo moderno e modernidade deverão ser definidos através das leituras das obras de Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard e Marshall Berman. É importante ressaltar que esses autores, ao tratar teoricamente do tema, consideram que a modernidade é transformação e alimentação do paradoxo e da crise, além de ser referência constante ao futuro e à mudança.
A modernidade, diz Jean Baudrillard, tem suas noções específicas de tempo: do relógio, da histórica linha de tempo, que formam um conjunto de definições baseadas na linearidade do tempo. Mas, a modernidade é também um modo de organizar a civilização, é um modo de civilização que tudo absorve, envolve e destrói, alterando os antigos sistemas de poder e de troca, substituindo-os por mercadorias e objeto de consumo industrial.

5. HIPÓTESE [atenção: essa hipótese tem três variáveis, indicadas por uma numeração entre colchetes. É importante nos darmos conta que delas tiraremos os objetivos de pesquisa]

Para responder ao questionamento acima apresentado, a presente pesquisa parte da hipótese de que o crescimento da Editora Globo está associado ao [a seguir, a 1ª variável]processo de industrialização e de modernização do Brasil e do Rio Grande do Sul, ao desenvolvimento da industrial cultural brasileira e rio-grandense, ao [2ª variável]aumento do número de leitores (indivíduos alfabetizados) e [3ª variável] à atividade de escritores, tradutores, ilustradores disponíveis para as tarefas de editoração, necessários ao desenvolvimento da citada editora entre as décadas de 1930 e 1940.
[As variáveis da hipótese podem ser transformadas em objetivos, desde que se coloque um verbo no infinitivo no início da sentença, indicando a ação que se quer empreender. Analisar o processo ..., contextualizar o período..., avaliar ..., identificar são verbos que indicam a ação pretendida pelo pesquisador.
6. OBJETIVOS
O objetivo geral desse projeto é fazer compreender a importância da Editora Globo no contexto editorial brasileiro das décadas de 1930, 1940 e 1950, partindo do processo de industrialização e de modernização da sociedade brasileira. Para tanto, foram traçados os seguintes objetivos específicos:
6.1 analisar o processo de industrialização e de modernização, associado ao desenvolvimento da indústria cultural no Brasil e no Rio Grande do Sul, entre os séculos XIX e XX;
6.2 avaliar e analisar as possibilidades que o Rio Grande do Sul oferecia em termos de leitores (percentual de indivíduos alfabetizados), além de profissionais capacitados para atender as demandas de uma editora no que se refere às traduções, ilustrações e toda a sorte de serviços especializados que essa indústria requer;
6.3 identificar o momento da criação e da ampliação da Seção editora da Livraria do Globo, destacar suas principais edições, publicações de revistas e outros bens culturais; fazer um levantamento do número de alfabetizados no Rio Grande do Sul, entre as décadas de 1920 e 1930, dos indivíduos leitores de livros;
6.4 comprovar o crescimento e desenvolvimento da Editora Globo, através da diversificação da produção editorial e dos planos de aproximação dos diferentes grupos de leitores, com distintos interesses, tais como: literatura policial, literatura erudita, literatura infantil, enciclopédias, dicionários, livros técnicos, obras de culinária, manuais de bem-viver, e obras de interesse geral.
[os objetivos devem ter íntima conexão com a hipótese e suas variáveis]

7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Inicialmente, a pesquisa depende de uma revisão bibliográfica que trate da questão da definição dos processos de industrialização e modernização, do surgimento da indústria cultural e indústria de livros. Esse estudo obedecerá ao seguinte roteiro de leituras:

7.1 a industrialização será tratada como um processo iniciado no século XIX e em expansão no século XX, conforme Celso Furtado, Paul Singer e Gabriel Cohn. Serão considerados os fatores de acumulação nacional e regional. Além disso, pretende-se estudar o fenômeno da industrialização da cultura (indústria cultural) e da produção industrial de livros com base nos estudos de Umberto Eco e Pierre Bourdieu. Os termos relativos ao moderno e à modernidade deverão ser definidos através das leituras das obras de Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard e Marshall Berman.
Esse aprofundamento será seguido por uma pesquisa empírica de levantamento de dados documentais, para a qual foram estabelecidos os seguintes passos:
7.2 a avaliação da população rio-grandense alfabetizada, público alfabetizado e possível leitor e clientes de livros, dependerá da pesquisa nos Relatórios do Presidente de Estado do Rio Grande do Sul (1920-10145) e nos Relatórios da Diretoria de Ensino do Estado do Rio Grande do Sul;
7.3 o histórico da Livraria do Globo, da seção editora será organizado mediante leitura e coleta de dados em livros de memórias, biografias, perfis de época, autobiografias e jornais de época. Com o propósito de fazer acréscimos aos depoimentos e análises da documentação, serão realizadas entrevistas com os atuais diretores da Editora Globo;
7.4 através da revisão da bibliografia, jornais, documentação e entrevistas será reconstituído o grupo de intelectuais e artistas que atuaram na Globo entre as décadas de 1930, 1940 e 1950;
7.5 os relatórios da empresa e as entrevistas com os proprietários procurarão investigar a origem do capital disponível para a ampliação da seção editora, bem como a repercussão e o impacto que causou a aquisição da maquinaria nas décadas de 1910 e 1920. A leitura de jornais rio-grandenses, sobretudo do Correio do Povo e do Diário de Notícias, dará a medida do impacto da modernização da editora e da aceitação de sua diversificada produção pelos leitores e críticos rio-grandenses.

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Para concluir a minha proposta de pesquisa por objetivos, sugiro que cada objetivo ganhe uma ou mais palavras indexadoras, ferramentas importantes para a organização do fichário e a escrita do texto.
Exemplo:
Objetivo 1: palavras indexadoras: processo de industrialização; modernização, indústria cultura/ Brasil e RS [esses termos aparecerão no campo da ficha destinado à identificação do conteúdo que ela conterá.
Na próxima publicação, apresentarei um modelo de ficha e de organização de fichário por objetivos. Mesmo sabendo que existem outras maneiras de organizar uma pesquisa, essa ainda é uma maneira eficiente e fácil de operar. Sugiro que ele seja experimentado, usando o modelo de projeto e de ficha já publicados.

1 Comentários:

Fabiana disse...

Olá Prof.ª Elizabeth, já vou salvar esse texto. A orientação de extrair os objetivos das hipóteses irá me ajudar muito nos meus próximos trabalhos. Obrigada.

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