A modernidade é um
modo de civilização. Seus primeiros sintomas aparecem com as grandes navegações
e com as descobertas do século XVI. Descobrir novas terras e arriscar
empreendimentos torna-se um dos objetivos dos homens. Para atingir essas metas é necessário desenvolver a capacidade de planejamento. A rudeza dos oceanos não pode ser
vencida somente com espírito de aventura. Na busca de ampliação de recursos e
de domínios, os europeus desenvolvem a ciência e a tecnologia. Dividem racionalmente
o trabalho, criam a indústria e introduzem na vida social a dimensão da mudança
permanente.
Entre o século XVI e XX, são efeitos do mundo moderno a invenção de aparelhos capazes de medições precisas, o desenvolvimento
da tecnologia avançada, o
crescimento demográfico, a descoberta de medicamentos sintéticos, a concentração urbana e
o gigantesco desenvolvimento dos meios de comunicação e de informação.
A modernidade é
uma prática social e um modo vida organizado em função das possibilidades de
inovação e de mudança do futuro. A ideia de projetar para o amanhã e de intervir
no futuro é um dos aspectos mais sensacionais da modernidade.
Em Tudo o que é sólido desmancha no ar, Marshall
Berman diz-nos o que é a modernidade. Na leitura do Fausto, de Goethe, do Manifesto Comunista, de Karl Marx, e do
romance russo do século XIX, é possível conhecer a modernidade como projeto de intervenção no futuro. Mas é no plano de urbanização de Nova Iorque, do
arquiteto Robert Moses, que Berman identifica o extrato da modernidade.
Para construir as radiais que circundam e ligam Manhantan aos distritos
de Nova Iorque, Moses destruiu bairros e vizinhanças inteiras, esquecendo a vida cotidiana, as feiras e as formas de
organização tradicionais, verdadeiros obstáculos ao seu projeto de modernização da cidade.
****
A modernidade tem
faces distintas. De um lado, gera progresso e desenvolvimento; produz artefatos
industriais e teconológicos inimagináveis; de outro, alimenta as contradições, a miséria, a
condenação e a exclusão. Ela é também um jogo de signos, de costumes e de
cultura que transforma os seres humanos e as sociedades em objetos de
pensamento, em abstração. E em consumo. Criado a fluidez da modernidade, os homens esquecem as relações tradicionais, a amizade duradoura, a vizinhança antiga e as formas narrativas (Walter Benjanin) contentando-se com padrões de
comportamento ditados por discursos e pelo consumo.
Henri Lefebvre, um
pioneiro dos estudos sobre a modernidade, vale-se do pensamento de Marx e de
Baudelaire para analisar o mundo moderno. Em Marx, ele
identifica a criação do Estado e da vida cotidiana pelo exercício da abstração;
e em Baudelaire identifica a criação de um mundo novo pela linguagem. Na
modernidade, o mundo pode ser criado pela linguagem, por atos de
linguagem. Concebe-se o futuro, o desconhecido, o improvável, o imprevisível
pela linguagem. A linguagem no lugar das coisas ocupa o espaço do real. A revolução pretendida por Marx é antes um ato de linguagem. É uma ideia expressa por
palavras que propõe atitudes e a transformação do real.
Além das abstrações que ocupam o lugar do
real, a modernidade cria a noção de tempo medido e calculado. A preocupação com
o medir o tempo é uma experiência antiga. As cidade ao longo
dos séculos XV e XVI ganham relógios públicos e o uso dos relógios individuais
espalha-se pela Europa. Todavia, o relógio de precisão e o seu uso como um
instrumento científico, somente nasceu com o cronômetro e com a necessidade de
medir fenômenos naturais com mais certeza. Galileu usa um pêndulo para medir o
tempo e abre caminho para a sua cronometragem.
Medir o tempo
através dos relógios é uma experiência comum. Contar dias,
noites, meses e anos é próprio da civilização moderna. Tempo sucessivo, linear, cronológico; passado, presente e futuro.
Tempo tripartido que se nos apresenta como tempo real. A modernidade promove
uma noção específica de tempo: tempo histórico ou tempo da linha de tempo ou tempo diacrônico, propondo às sociedades
ocidentais uma adaptação cronológica do passado.
A existência de um
tempo passado, presente e futuro é um crença no mundo moderno. O ato de fé no
futuro, perpetua a noção de tempo histórico tripartido. Cabe, no momento, uma
pergunta: e se deixarmos de acreditar no futuro, voltando-nos ao presente ou ao tempo cósmico,
dos planetas, dos tempos infinitos, dos mitos e das explicações redondas? A
realidade do tempo será alterada?
Há historiadores
que já escrevem História com uma nova concepção de tempo histórico. Para eles, o tempo pode ser repetição, simultaneidade, heterogeneidade, descontinuidade,
multiplicidade. A nova concepção de tempo histórico rejeita a pura sucessão
acontecimental tradicional. Ela é pós-calendário histórico, pós-linha de tempo,
pós-cronologia. O tempo pode ser simultâneo ou sincrônico.
Nesse sentido, a nova noção de tempo pode ser denominada de
pós-moderna.
0 Comentários:
Postar um comentário